A velhice, uma fase natural da vida humana, é marcada por profundas transformações físicas, emocionais e sociais. No entanto, a experiência de envelhecer varia para cada pessoa, influenciada por fatores como condições de saúde, contexto socioeconômico e redes de apoio social. Enquanto alguns idosos enfrentam desafios como doenças crônicas, perda de entes queridos, isolamento social e dificuldades financeiras, outros encontram tranquilidade e realização pessoal. Essas diferenças tornam crucial a abordagem biopsicossocial, que considera tanto os aspectos físicos e mentais quanto os sociais. Entre os muitos desafios enfrentados pelos idosos, o suicídio se destaca como um problema particularmente complexo e, muitas vezes, negligenciado.
A ideação suicida e o comportamento suicida entre idosos são diferentes do ato consumado. A ideação suicida refere-se ao pensamento ou planejamento do suicídio, enquanto o comportamento suicida pode incluir autolesão e tentativas de suicídio, com a intenção de morte sendo o principal diferencial entre essas ações.
O índice de suicídio entre idosos tem aumentado em várias regiões do mundo, incluindo o Brasil, devido a uma combinação de fatores físicos, emocionais e sociais que tornam essa população mais vulnerável. Entre os principais fatores estão as doenças crônicas, que geram dor e perda de funcionalidade, e os transtornos mentais, especialmente a depressão, que muitas vezes são subdiagnosticados e maltratados nessa faixa etária. A depressão pode ser agravada pelo isolamento social, uma realidade comum entre idosos que, frequentemente, enfrentam a morte de entes queridos e a perda de papeis sociais, gerando sentimentos de desesperança (IPEA, 2024; World Health Organization, 2019; Ceará, 2022; Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2024).
A ideação suicida e o comportamento suicida entre idosos são diferentes do ato consumado.
Psicólogo
Além disso, fatores socioeconômicos desempenham um papel importante no aumento do suicídio entre idosos. Aposentadorias precárias, dificuldades financeiras e falta de acesso a cuidados de saúde de qualidade contribuem para o estresse emocional nessa fase da vida. O estigma em torno da saúde mental e a falta de serviços especializados para essa população dificultam ainda mais a identificação e tratamento de transtornos, aumentando a vulnerabilidade ao suicídio.
Principais lesões auto infligidas
As principais lesões auto infligidas que levaram ao suicídio de idosos, conforme descrito nos artigos, estão predominantemente relacionadas a métodos altamente letais, como enforcamento, envenenamento e precipitação de locais elevados.
O envenenamento também foi destacado no nono trabalho (Brasil. 2020), sendo mais comum entre as mulheres idosas. Esse método pode refletir o acesso a substâncias tóxicas e medicamentos, um fator relevante, dado o uso frequente e inadequado de remédios por essa faixa etária para tratar condições crônicas, evidenciando como a gestão da saúde e o acesso a tratamentos influenciam a vulnerabilidade ao suicídio.
O Artigo 10 acrescenta que o aumento de suicídios por precipitação de locais elevados sugere uma mudança nos métodos utilizados, especialmente entre os idosos separados judicialmente, o que reflete a influência de fatores sociais e emocionais, o qual sugere que a sensação de desamparo e a perda de controle sobre a própria vida podem levar os idosos a buscar formas de escapar da realidade de forma letal (Gomes. A. G. N.; et. al. 2021). Essas escolhas estão frequentemente relacionadas a fatores como solidão, desesperança e a sensação de ser um peso para os outros, elementos amplamente identificados na prática clínica como disparadores de crises suicidas em idosos.
A prevalência do enforcamento, particularmente entre homens, destaca a necessidade de ações preventivas direcionadas, como a restrição ao acesso a meios letais, especialmente em contextos familiares ou comunitários onde o suporte psicológico é limitado.
Doenças Crônicas
As doenças crônicas são um dos principais fatores que afetam a qualidade de vida dos idosos e contribuem significativamente para o aumento da vulnerabilidade ao suicídio nessa população. Idosos convivem frequentemente com condições como diabetes, doenças cardiovasculares, artrite, doenças respiratórias crônicas, câncer e doenças neurológicas como Alzheimer e Parkinson.
Fatores Biológicos
Além das doenças crônicas, outros fatores biológicos afetam a vulnerabilidade ao suicídio em idosos, como o envelhecimento do sistema neurológico e a presença de transtornos mentais. O envelhecimento natural do corpo e do cérebro pode afetar a regulação do humor e aumentar a predisposição a problemas como depressão e transtornos de ansiedade.
A depressão, em particular, é um fator biológico frequentemente subdiagnosticado em idosos, o que gera um ciclo de sofrimento emocional não tratado. Essa condição mental é agravada por outras questões físicas e crônicas que causam dor e incapacitação, como mencionado anteriormente, além de estar associada a fatores hormonais e à deterioração neurológica que ocorre com o avanço da idade.
O abuso de substâncias, como álcool e medicamentos, é outro fator biológico que contribui para o aumento do risco de suicídio entre idosos. Muitas vezes, os idosos recorrem ao álcool ou a medicamentos como forma de aliviar dores físicas e emocionais, sem considerar o impacto desses hábitos no longo prazo (Asfor, A. C. P. 2023).
Fatores Psicológicos
Os fatores psicológicos são igualmente importantes na compreensão do suicídio entre idosos, especialmente devido ao impacto das perdas acumuladas ao longo da vida. A solidão, por exemplo, é um dos maiores desafios psicológicos para os idosos e está fortemente associada ao suicídio. Muitos enfrentam a perda de cônjuges, familiares e amigos próximos, o que gera uma sensação de vazio e abandono, especialmente quando essas perdas são percebidas como definitivas e insubstituíveis. O isolamento social agrava a sensação de desesperança, que é um gatilho para o desenvolvimento de ideação suicida (de Souza, L. R.; et. al. 2023). Outro aspecto psicológico significativo é a perda de sentido e propósito de vida, que costuma ocorrer após a aposentadoria ou ao final de atividades profissionais e sociais importantes.
Para avançar nesse sentido, é crucial fortalecer políticas públicas focadas na saúde mental da população idosa, priorizando o acesso a cuidados especializados e programas de prevenção do suicídio. Os serviços de saúde mental devem incluir consultas regulares com psicólogos e psiquiatras, além de oferecer suporte emocional e psicológico em programas específicos de prevenção.
A inclusão de atividades sociais também é essencial para promover o envelhecimento ativo e combater o isolamento. Programas comunitários de convivência, oficinas e atividades recreativas criam oportunidades de interação social e acolhimento, além de reduzir o estigma em torno da saúde mental e do suicídio por meio de campanhas de conscientização voltadas aos idosos e suas famílias. No âmbito familiar, é igualmente importante capacitar cuidadores e familiares para reconhecer sinais de sofrimento emocional, criando um ambiente acolhedor que valorize e respeite o idoso. O fortalecimento dos laços familiares e o diálogo intergeracional podem mitigar conflitos e combater a solidão, contribuindo para uma vida mais integrada e satisfatória.
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